Não é nenhuma novidade o descaso de vários leitores, que se dizem “sérios” e “adultos”, com os quadrinhos, e mesmo os que lêem quadrinhos aqui pelo ocidente têm um preconceito com a produção oriental, mas a mesma contém umas pérolas geniais da nona arte. E uma das mais interessantes delas, se não a mais interessante, é uma chamada GEN – Pés Descalços. Ela, apesar de ser japonesa, não envolve raios luminosos, vôo, lutas mentirosas e (muitas) mulheres peladas com peitos gigantes. Sim, é uma grande surpresa.
Gen é um menino japonês que tem por volta de 6 anos em 1945 e mora em Hiroshima (agora tenta imaginar o que vai acontecer, bruxão!). A família dele é pobre, numerosa, planta arroz pra subsistência, e depende de um pouco provável lucro da produção, sentindo todos os problemas de uma economia de fim de guerra num país perdedor. Além disso, o pai da família é contra a presença do Japão na Guerra, fazendo com que a família fosse vista como traidora do Império Japonês e do Imperador, assim eles eram constantemente humilhados pelos vizinhos, em suas escolas e transeuntes.
O Mangá é autobiográfico e dividido em 4 volumes, sendo que o primeiro mostra a vida dele antes da bomba atômica, e os outros três mostram como a vida dele mudou após a bomba e o fim da Segunda Guerra Mundial, mostrando o que aconteceu políticamente no Japão, as mudanças na vida dele, e como ela foi influenciada pelo mundo que mudava na época.
O mais interessante é o tom de realidade que a obra carrega nas situações e nos seus diálogos, considerando o traço simplista do autor Keiji Nakashima, que, guardadas as devidas proporções lembra a premissa parecida com a de Art Spiegelman de Maus, usando uma mídia acostumada ao fantástico, mas tratando do que há de mais humano. Cada momento na história é emocionante e realmente muito bonito.
Os quatro volumes de Gen – Pés Descalços foram lançados pela Conrad Editora em 2001, com uma boa qualidade, bom acabamento, ótima impressão. Uma obra que merece ser lida, você goste de quadrinhos ou não, mas porque você é um ser humano.
A não ser que a popularidade do Blog já tenha chegado até Marte. (not)
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